RPG, aprendizado e mimimalismo


E um certo domingo foi dia de visitar o participar de um encontro de Role Playing Game (RPG) do D30. Tais encontros são uma excelente oportunidade para quem gosta de jogar o famoso RPG de mesa, com dados, lápis, papel e, eventualmente, miniaturas.

Esse evento foi importante para mim por dois motivos:

  • ser o primeiro evento presencial do grupo desde o início da pandemia;
  • a primeira vez que eu levo o meu filho para jogar.

Considerando que eu estava levando o infante, estava procurando um grupo com um jogo mais simples, focado não apenas em iniciantes no jogo, mas iniciantes mais novos em idade. A minha sorte foi cair na mesa sob comando do Lucas Rolim que desenvolve sistemas de RPG próprios e apresentou sua aventura “A Torre Empilhada”.

Lucas parece ter um gosto especial para o que chama de jogos minimalistas. Nesse aspecto, creio que o entendimento da Yuka descreve bem o “mimimalismo” da proposta. Esse mimimalismo não é uma opção pela pobreza ou escassez, mas justamente o oposto, uma opção por definir prioridades e focar no que se considera mais importante. Acredito que Lucas fez algo parecido com seus jogos: escolhendo as regras propositalmente simples para se focar na criatividade, exploração e narrativa em detrimento de regras complexas e detalhadas. Assim, a experiência de jogo se torna leve, demandando pouco tempo e esforço para o aprendizado de regras (um dos grandes problemas para iniciantes) e perfeitamente adequado às peculiaridades dos eventos: o limitado tempo de jogo, a necessidade de aprendizado rápido e falta de entrosamento prévio entre os participantes. Ao mesmo tempo, como o foco vai para a descrição do ambiente narrado e sua exploração pelos jogadores são reforçados dois pontos fortes da experiência com o RPG de mesa; o uso da imaginação e a interação entre jogadores e narrador.

A mesa era composta por 6 jogadores no total, com 3 adultos, 2 adolescentes e uma criança. Com o desenrolar do jogo formou-se um acordo tácito dos adultos, que já tinham experiência, em deixar os mais novos assumirem o protagonismo. O Lucas também fez parte desse acordo e tornou a experiência mais interessante para eles e rendeu algumas surpresas interessantes durante o jogo. Foi possível ver os diversos efeitos positivos do jogo.

Como o RPG de mesa não tem os estímulos visuais e sonoros de um jogo digital os jogadores exercitam sua imaginação para entrar na experiência. O que a torna muito mais pessoal, se você pedir para que os jogadores contem sobre uma experiência de jogo, ela vai mostrar algo similar, mas também ressaltas as diferenças de pontos de vista sobre o mesmo evento, que é um dos aspectos ricos do RPG de mesa.

No caso da nossa mesa de jogo, os mais novos aproveitaram o espaço e evoluíram ao longo da partida ajudados pela experiência de Lucas em incentivar e conduzir a história. Como já observei num certo projeto: um bom facilitador faz muita diferença e isso também vale para partidas de RPG. A diferença entre incentivar a participação e a história, sem ceder a tentação do excesso de controle demanda habilidade com o jogo e sensibilidade para entender rapidamente os desconhecidos que estão jogando. O efeito pode ser sutil para quem participa, mas essa habilidade faz toda a diferença para o objetivo do jogo, divertir.

O sistema criado pelo Lucas é excelente para eventos e acho que tem um bom potencial para uso paradidático no ensino escolar, especialmente em turmas pequenas. Como já comentei, o RPG pode ser um excelente exercício de gerência, leitura, aprendizado autodidata e formação de equipes, além dos outros benefícios já observados em sala de aula. Considerando que o material do Lucas está em inglês eu acredito que seu uso seria bom para incentivar a prática do idioma. Algo que observo pela quantidade e amigos que jogam e lêem e escrevem bem no simpático idioma bretão.

Fonte: Ladieson

No aspecto paterno, fiquei muito mais confortável em ter outra pessoa conduzindo justamente porque a tentação de pai é querer controlar as coisas para o filho. Assim, acredito que meu filho foi muito melhor tendo a mim apenas como outro jogador, sem nenhuma autoridade especial. Eu pude ver ele se soltar e arriscar seus próprios movimentos. O que rendeu uma manobra final surpreendente que foi muito bem aproveitada pelo Lucas para fechar a partida. Em alguns momentos tive tanto orgulho do meu filho que precisei me refrear para não pegá-lo pelo pescoço, enchê-lo de beijos e produzir um momento traumaticamente constrangedor, para ele.

Assim, o D30 novamente cumpriu seu papel como divulgador do RPG e excelente espaço para a inclusão de novos jogadores. Muita gente valoriza os sistemas complexos, mas trazer uma boa experiência com poucos recursos demanda uma habilidade necessária para atrair popularizar a modalidade.

Referências

Lucas Rolim – https://lucasrolim.itch.io/ – Recomendo outras aventuras do Lucas, o site dele tem várias opções. Para quem souber um pouco de inglês vale a pena.

D30RPG – http://www.d30rpg.com.br/ – Para quem quiser saber mais do evento e de RPG

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