Violência nas escolas, nossas discussões e nossos especialistas


Após o enésimo caso de violência nas escolas ocorrido nesse ano li um artigo de um especialista em educação comentado sobre o que deve ser feito para reagir a violência. O texto me fez pensar que temos de mudar não apenas o tipo de escola que temos, mas o tipo de especialistas e a visão da nossa forma de lidar com problemas também. Não que o especialista esteja errado, eu pelo menos concordo com ele que temos de mudar a escola, o relacionamento professor x aluno e o que é exercido como ensino ou aprendizado na escola, enfim todo aquele blábláblá sobre mudança de paradigmas que vocês já conhecem. Sir Ken Robinson já tratou magnificamente bem desse tema, ou pelo menos de forma mais criativa e instigante que eu ou nosso especialista. Na verdade o que me incomodou é que a tal mudança de paradigmas é uma mudança necessária mas está no nível estratégico.

Para deixar claro o que chamo de nível estratégico é preciso me fundamentar no hermético mundo do planejamento estratégico hermético para mim pelo menos:  Bateman (1998 em Corrêa, 2007) diz que há 3 diferentes níveis de planejamento. O estratégico rege as decisões de longo prazo e de grande amplitude; o tático traduz esses objetivos gerais em objetivos específicos e por fim o operacional onde as ações definidas nos níveis anteriores são executadas. Enfim, uma mudança  como a proposta por nosso especialista meu não, do uol, está justamente no âmbito estratégico. A qual exige uma abordagem aprofundada e mudanças estruturais. Ainda que essas mudanças tenham resultados de efeito duradouro e possivelmente eficaz vai levar muito tempo para que tenham efeito real ao nosso sistema educacional. Enquanto isso as pessoas, sejam alunos ou professores, estão morrendo agora.

Pirâmide dos níveis de planejamento (Correa, 2007)

Na verdade o foco de nosso especialista acaba deixando um rastro para entender como a educação no Brasil é entendida por ele e por seus pars e certamente explica a nossa demora em aplicar soluções. Uma crítica que ouvi uma vez de um conhecido que fez sua pós-graduação fora do país é que no Brasil o estudo da educação é muito focado nos aspectos filosófico e sociológico enquanto há poucos estudos na psicologia, que tem um importante aspecto instrumental para o processo educacional. Um dos resultados é que estamos cheios de direções, valores, estratégias, missão (e especialistas, claro) sobre a educação brasileira, mas pouca gente com idéias, foco e interesse em como fazer a coisa funcionar. Enfim, somos bons no estratégico, tudo bem que o papel aceita tudo, mas patinamos no tático e certamente no operacional. Um grande plano sem um processo de planejamento, gerência e principalmente operacionalização é algo tão útil para um esfomeado pobre e analfabeto quanto a dica certa sobre como investir na bolsa de valores.

O problema da violência nas escolas realmente exige uma mudança de paradigma, mas acho um tanto utópico achar que essa mudança vai resolver tudo. Para essa mudança ocorrer também é necessário garantir condições mínimas para que a escola continue a funcionar, que passam pela segurança e ordem, sem essas condições mínimas a mudança de paradigmas é algo tão eficiente quanto se discutir a melhor cor para os extintores enquanto a casa está pegando fogo.

E aí volta a crítica aos especialistas e ao tipo de discussão sobre educação que temos, precisamos no momento é de mais discussão sobre o operacional

 

Referências

BATEMAN, T. Snell, S. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo : Atlas, 1998.

CORREA K. Níveis de Planejamento. 2007 disponível em http://www.administracaoegestao.com.br/planejamento-estrategico/niveis-de-planejamento/

2 comentários em “Violência nas escolas, nossas discussões e nossos especialistas

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  1. Essa violência também se perpetua pelo fato de acharmos que estamos lidando com criancinhas inocentes, que não sabem o que estão fazendo, e do ranço da ditadura que nos faz crer que, tentar impor regras de disciplina nas escolas é o mesmo que tolher a liberdade dos alunos. Tentar punir os que desobedecem as regras ou desrespeitam os outros lá dentro é causar traumas nas crianças. Esquecemos que o mundo lá fora é cheio de regras e que precisamos de disciplina na luta do dia-a-dia. Esquecemos que seremos punidos caso não sigamos as regras…

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    1. Concordo. De certa forma o problema de disciplina generalizado que temos é reflexo dessa cultura de “liberdade” (ênfase nas aspas) e ninguém parou para pensar qual seria o efeito de longo prazo em se retirar todas as ferramentas coercitivas da escola sem substitutos.

      Sinceramente vejo um papel didático na punição, como uma forma de ensinar consequências em uma situação controlada. Porque as consequências fora da escola, ou na rua, se arriscam a sair do controle facilmente.

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